O IPDMS compartilha nota de repúdio da ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DOS CIGANOS DE CONDADO-PB contra as manifestações racistas e de ódio produzidas por integrantes do governo federal contra os povos ciganos e indígenas:

Hácon baron héqui naká camela dinquinhár suetes ciganos héqui Indígena!

Repudiamos o ódio e racismo do governo federal aos Povos Ciganos e Indígenas!

É um escândalo mundial as palavras de ódio e racismo, em que todos e todas puderam testemunhar, ao visualizar o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020. O senhor ministro de educação Abraham Weintraub, em seu discurso, explana despreparo e que escancara a verdadeira face do atual governo. Este afirmou: ““Odeio o termo ‘povos indígenas’, odeio esse termo. Odeio. O ‘povo cigano’. Só tem um povo nesse país. Quer, quer. Não quer, sai de ré”.

Milhões de crianças e adolescentes sem aulas, trabalhadores sem emprego, empresas fechando, milhares de pessoas perdendo a vida por conta do COVID-19, e o que faz o chefe da educação numa reunião de governo? Destila ódio aos povos tradicionais brasileiros que contribuem, desde sempre, para a formação cultural, social e econômica deste país. Os povos ciganos brasileiros e de toda humanidade estão indignados com essa fala!

Ao longo do seu discurso, o senhor ministro de Educação Abraham Weintraub demonstra repugnância ao Brasil e as nossas instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal, difamando e injuriando os integrantes deste tribunal, que zela pela Constituição Federal! Obviamente, nada poderia se esperar de uma pessoa que não conhece a realidade dos povos tradicionais, que é racista e ciganofóbico. Demonstra, na verdade, ignorância em face da realidade e do nosso país, que possui dimensões continentais e mais de 200 milhões de habitantes.

Somos uma nação que é caracterizada por sua diversidade de culturas, de etnias, como os povos indígenas e ciganos. Nós, ciganos e ciganas, somos os primeiros habitantes desse território, que hoje chamamos de Brasil. Por uma série de questões, temos nossas especificidades e merecemos respeitos! Queremos apoio do governo para que o nosso povo cigano, que também é brasileiro, estude, frequente uma universidade, que tenha oportunidade de obter diferentes tipos de conhecimentos.

O artigo 5º, da Constituição Federal, diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito á vida, á liberdade, á igualdade, á segurança, a á propriedade, nos termos seguintes”. Mas, na prática, é bem diferente. O processo histórico brasileiro, o colonialismo, que ainda persiste, embora ressiginifcado, massacra, ainda, milhões de indígenas e ciganos, nos persegue e nos marginaliza na sociedade. Os povos ciganos, indígenas, e todas comunidades e povos tradicionais, demandam políticas públicas! E nossos direitos estão consagrados no ordenamento jurídico brasileiro e também nos tratados internacionais em que o Brasil é signatário. Queremos que os nossos direitos saiam do papel! Virem ações!

Os povos ciganos repudiam esse tipo de discurso do Ministro de Educação, o senhor Abraham Weintraub! Diante de uma possível prática de crime de preconceito, assim como de crime de responsabilidade, entendemos que esse episódio deve ser apurado, investigado, e, caso necessário, processado pelas instâncias competentes. Aproveitamos para dizer que apoiamos o pedido de explicações ao ministro da educação, realizado pela Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR). Todavia, não basta exigir explicações, é necessário pedir seu afastamento do cargo e averiguar as possibilidades de buscar responsabilização penal por seu discurso. Não podemos tolerar esta ideologia do ministro da educação, que se aproxima das ideias Hitler, que levaram ao genocídio de milhões de ciganos, judeus e outras minorias, nos campos de concentrações. A permanência do senhor Abraham Weintraub no MEC significa a normalização do fascismo no Brasil!

Contudo, não é apenas o que foi dito que nos impressiona, como também os silêncios e a indiferença de alguns integrantes e apoiadores do governo Bolsonaro. Por isso, cobramos uma posição da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a Senhora Damares Alves, que estava na reunião e não repreendeu ou repudiou a fala do chefe da educação que agrediu milhões de brasileiros ciganos e indígenas. Fica a dúvida: a ministra também odeia os povos indígenas e os povos ciganos? Ao invés de questionar a fala do ministro, a senhora Damares, lamentavelmente, fala em prender os governantes, dos Estados e Municípios, que estão trabalhando para salvar as vidas dos brasileiros e brasileiras, por meio de medidas que incentivam o isolamento social, por causa do vírus do Covid-19.

Além disso, exigimos um posicionamento público da senhora Sandra Terena, secretária nacional de políticas da promoção da igualdade racial, que é indígena, assim como de todos aqueles que são ciganos e trabalham ou trabalharam no governo federal. Por fim, solicitamos uma declaração e resposta do senhor Jair Bolsonaro, presidente da República, sobre a declaração do ministro de educação, senhor Abraham Weintraub, que, no mínimo, deve ser demitido do cargo, para bem desta nação. Fora Abraham Weintraub!

ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DOS CIGANOS DE CONDADO-PB
Integrante do CNPIR e de outros Conselhos estaduais da Paraíba e Ceará.