CONTRA A PERSEGUIÇÃO IDEOLÓGICA PARA COM O PENSAMENTO CRÍTICO

O Instituto de Pesquisa Direitos e Movimentos Sociais reúne pesquisadores críticos do campo jurídico para fortalecer processos de construção de conhecimento voltados à transformação da realidade social de exploração e desigualdade. Os pesquisadores, professores e estudantes que adotam esse tipo de perspectiva são comumente considerados “ideológicos”, comprometidos com uma visão “não-neutra” da ciência e por isso desqualificados de variadas maneiras.

Não poderia haver entendimento mais equivocado. Na verdade, não existe neutralidade na ciência; qualquer processo de construção de conhecimento está implicado com disputas ideológicas. A ideologia é uma “consciência prática” da realidade conflituosa em que vivemos (como diria István Mészáros), diz respeito ao modo como nos posicionamos em relação aos conflitos sociais mais relevantes, alinhados com tal ou qual orientação que atende aos interesses de classes e grupos sociais distintos, sejam eles no sentido da conservação ou da transformação da ordem posta. A ideologia liberal, no entanto, busca apresentar-se como neutra e alheia a estes conflitos.

Atravessamos um período histórico de intensas disputas ideológicas por projetos societais antagônicos no âmbito político, econômico, cultural etc. Tais disputas também se apresentam no campo da produção de conhecimento, quando devemos nos perguntar: para que serve o conhecimento? Quais diretrizes devem nortear a produção e a apropriação dos saberes das variadas ciências? Como a ciência pode colaborar para o desenvolvimento da humanidade, e mais, de que tipo de “desenvolvimento” estamos falando?

Observamos, no período mais recente, uma série de conflitos relacionados a essas questões. O total sucateamento e a real ameaça de fechar a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), concretizada na falta de pagamento de seus funcionários. Nos solidarizamos com o Movimento Direito Fica, pela permanência dos cursos de pós-graduação e graduação em direito no campus Maracanã. Observamos ainda a tentativa, por meio de emenda parlamentar, de reorientar a concepção da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA), esvaziando os seus propósitos de servir à interlocução de saberes e culturas entre os países da região. A perseguição a professores do Instituto Federal Catarinense (Campus Abelardo Luz) sob “acusação” de instrumentalizarem o Instituto para atender a interesses do MST, quando este campus foi criado dentro de uma área em que se concentram assentamentos regularizados pelo INCRA, plenamente conectado às demandas da agricultura familiar local. A perseguição a professores que apoiam lutas estudantis por meio de várias estratégias, por exemplo, processos administrativos por desvio de função. As dificuldades e atém mesmo impedimento de professores alinhados com o pensamento crítico participarem de bancas de seleção para a escolha de novos professores em concursos públicos. O patrulhamento ideológico e ataques a orientações e trabalhos acadêmicos de matiz crítica.

Todas estas iniciativas, e tantas outras, são estratégias de boicote ideológico ao pensamento crítico e seu potencial de transformação da realidade, consistindo num retrocesso no campo dos valores democráticos que deveriam nortear a construção do conhecimento. Por isso, o IPDMS repudia veementemente tais iniciativas, apoiando todas as formas de resistência e enfrentamento a tal estado de patrulha.

Instituto de Pesquisa Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS)

19 de Agosto de 2017